A ilha
Sabe quando você ama tanto um certo alguém, mas muito mesmo?! E que por algum motivo você não a(o) pode ter (ou a perdeu por qualquer que seja o motivo), daí você chega a duas conclusões: Que se faz necessário manter distância dessa pessoa ou se sujeitar a ficar perto não importa como.
Difícil de explicar e talvez a maioria de vocês nem concordem com isso.
Eu vislumbrei essa dualidade do amor infinito recentemente. E com exemplos inusitados. Amei um lado, senti o outro. Uma intensa observação do meu próprio sentimento e o sentimento de outro. Esse tipo de empatia é difícil conseguir e até doloroso, mas me valeu como um enorme aprendizado, como não poderia deixar de ser.
Não pretendo teorizar o Amor, pois é algo que não se consegue fazer e acabaremos com um monte de frases soltas do tipo “Amor é isso ou aquilo”. Portanto tudo o que discorro aqui são impressões, e o que posso dizer de Amor é que é algo tão grande e complexo que sequer me darei ao trabalho de tentar explicar. Mas tal dualidade só pode ser vivenciada por quem amou exatamente dessa forma: da forma que você não consegue explicar.
Em ambos os casos não é que a pessoa lhe cause mal. Mas quando você a vê, algo estremece nas suas fundações. Você tem vislumbres de um futuro que não existe, junto com lembranças do passado e fantasias que nunca foram verdades. O contorno de suas formas ainda lhe fascina de tal modo que você tem que se controlar para não perder o foco no que está fazendo. Ao passo que o cheiro que dela emana te distrai imediatamente. A conversa cativante, as gentilezas, medos e gostos em comum – ou peculiares. A voz, o sorriso, a luz dos olhos, enfim todas as interjeições que fazem seu Amor por ela existir, ainda estão ali. Há ainda quem tem as lembranças de fato do toque de sua pele e do lugar lindo e reconfortante que era o seu beijo e abraço.
Nossa… quanta paixão… mas veja, apenas paixão. E não é só de paixão que estou falando.
Sim. No fundo de toda essa paixão (veja, há diferença) existe o Amor que você de fato sente, que no caso, é aquele sentimento que você tem pela pessoa mesmo à distância. Aquele sentimento que te faz ter a certeza que você a cuidaria e levaria até os confins do universo, que lhe faz perguntar-se se aquele simples cesto de pão não está pesado, de ver uma pequena flor na rua e pensar que ficaria muito bonito na mesa dela(e), que acorda você cedo ou te faz dormir tarde pois aquela promessa precisa ser cumprida, que tudo seu é dela sem nenhum questionamento e que você daria até um pedaço do seu corpo a ela se assim precisasse. Esse tipo de alicerce é profundo e nesse caso existe só em você, e essa é outra conclusão que eu cheguei: amar alguém não implica em se relacionar! Reciprocidade existe sim, e é bom saber que você também é amado, mas o Amor é grande e nobre e único demais pra você chegar e dizer: “Ela(e) não me ama, porque vou ama-lo(a)?”. Isso me soa egoísta. E Amor nunca se misturará a sentimentos ruins.
Mas então, por que se distanciar, ou se sujeitar a sofrer em silêncio? Por que é o que nos resta como simples mortais.
Um dos caminhos é tentar esquecer o que fez você se apaixonar pela pessoa. Aí a distância ajuda nisso. Você deixa de ver tão de perto o que lhe fascina tanto e outras coisas lhe ocupam a mente. Funciona bem pra muita gente. Ainda que uma ou outra lembrança retorne, não é suficiente para lhe estremecer tanto.
E o outro caminho é ficar sempre por perto, em uma espécie de torpor e aceitação, e continuar sua fascinação de modo silencioso, mas constante, como o gotejar de soro que se recebe em um hospital. Sua necessidade da pessoa é diluída em todos os anseios dela mesma, mas você a recebe, por que ama demais. Pode ela ir a qualquer caminho, com outras pessoas até, que o seu amor a ela mantém você por perto. É singelo e bonito, mas você está entorpecido, e certamente sangra sem sentir.
Única certeza até aqui é que esses caminhos são adequados a cada pessoa. Nenhum é o certo, tampouco é errado. Apenas são caminhos.
Eu? Que caminho eu tomo? De certa forma depende do amor que eu sinta e da pessoa em questão. O amor, como eu digo é meu mas a pessoa tem grande influencia na forma como sinto, logicamente. Eu na minha ilha, decido quem fica quem vai porque ainda que a reciprocidade como eu disse não implique em um relacionamento, cabe só a mim fazer essa escolha. Porque de toda forma, apenas darei amor, seja evanescendo, seja sangrando.